Já sabemos que muitos turistas ficam em Bruxelas por no máximo 24 horas, pois o objetivo quase
sempre é chegar a Bruges. Dessa forma,
por que eu perderia meu tempo indicando outras cidades da Bélgica para você
visitar? Como competir com Paris e Amsterdam, quando essas cidades são suas
vizinhas?
Bom, é aquilo que eu disse: se
você estiver morando aqui, ou passando um tempo mais longo no país para visitar
amigos e parentes, ou já conhece essas cidades famosas o suficiente, então
aproveite para visitar o interior da Bélgica! =)
A Bélgica é um país dividido em 3
regiões administrativas e 4 regiões linguísticas.
No norte temos a região de
Flandres, que fala holandês, cuja capital é Bruxelas. No sul temos a região da
Valônia, que fala francês, cuja capital é Namur. E a terceira região
administrativa é a região de Bruxelas-Capital, que é oficialmente bilíngue.
Você pode me perguntar: por que 4
regiões linguísticas, se eu só li a menção a francês e holandês? É porque há
uma região de língua holandesa, outra francesa, outra bilíngue e a última de
língua alemã, ali coladinha na fronteira com a Alemanha. Essa parte de língua
alemã é jurídica e administrativamente administrada pela Valônia, donde temos 3
regiões administrativas. Como você percebeu, Bruxelas é capital de Flandres ao
mesmo tempo que é capital da região bilíngue de Bruxelas-Capital e também
capital do país: a Bélgica não é para iniciantes!
Bruxelas é a super capital, sendo
ainda capital da Europa, por aqui abrigar as instituições mais importantes da
União Europeia. Mas não: não pense que você vai encontrar uma São Paulo, uma
Londres, uma Paris: essa super capital é ainda uma cidade de médio porte. Os
parisienses, que costumam nutrir um preconceito histórico contra a Bélgica (na
visão deles uma verdadeira roça) devem achar que Bruxelas é no máximo acanhada.
Não dê ouvido aos parisienses, nem os franceses gostam deles! =)
Por onde começar: pelo norte ou
pelo sul? Vamos começar pelo norte, já que Bruges é a estrela máxima dos
turistas que procuram a Bélgica.
As três cidades mais procuradas
em Flandres são: Bruges, Antuérpia e Ghent.
Bruges: a queridinha!
Bruges é uma cidade medieval
ainda bastante preservada, daí deriva sua fama. É praticamente cenográfica de
tão preservadinha, uma graça mesmo! Temos a praça principal (sempre Grote
Markt) com a torre do sino (campanário: construção típica dessa região da
Europa, também encontrada em cidades na Alemanha, na Holanda e no norte da
França), o prédio da prefeitura, vários restaurantes, bares, lojinhas, uma
museu sobre a idade média (nunca entrei, embora já tenha ido à cidade umas 4
vezes), mas as crianças parecem gostar muito.
Há a catedral, e também a igreja
Nossa Senhora de Bruges, em estilo gótico, com uma madona de Michelângelo em
exposição, as famosas lojas de chocolate, as igualmente famosas lojas de renda
belga, e a minha preferida: uma loja alemã de produtos de natal. Sim, nesta
loja é natal o ano todo! =) Chama-se Kathe Wohlfahrt e vem da cidade alemã de
Rotherburg ob der Tauber, onde o natal é razão de ser. Um dia, em dezembro,
ainda irei à feira de natal de Rothenburg, que parece ser linda!
(Notre Dame de Bruges)
(Lojinha de natal em Bruges)
Mas é claro que Bruges não seria
o que é se não fossem os seus canais com passeios de barco ao redor dos cisnes!
As cidades históricas que estão
assim preservadas são fruto da estagnação econômica. Por séculos no ostracismo,
com queda populacional, sem mudanças drásticas geradas pelo mercado
imobiliário, elas permanecem paradas no tempo. Bruges havia sido detentora de
indústria têxtil grande para os padrões da época, e possuía um porto comercial importante
na idade média, mas perdeu esse posto para Antuérpia, e hoje é considerada uma
“fofa” pelos turistas. Ou a “Veneza do Norte”.
Ghent:
A história de Ghent se assemelha
muito com a de Bruges. Na verdade, não apenas a história, as duas cidades
são visualmente parecidas. Ambas têm canais, com passeios de barco agradáveis,
a torre do campanário, e igrejas góticas testemunhas de um tempo de riqueza. A
diferença é que entre os séculos XVIII e XIX, Ghent conseguiu voltar a
estabelecer indústrias têxteis (agora sim, pós revolução industrial,
realmente podendo ser chamadas de indústrias) e isso modificou um pouco a
arquitetura da cidade. No passeio de barco, vemos muitos prédios fabris do
século XIX, que sabemos não ter o mesmo charme daquelas casinhas medievais.
(Ghent no verão)
(Ghent vista de cima)
Além disso, Ghent é mais viva
localmente – não há só turistas – em virtude de uma grande universidade. É por
isso que tenho muitos amigos que preferem Ghent a Bruges, porque acham que
Ghent é mais original e menos cenográfica que Bruges.
Antuérpia:
Essa é a segunda maior cidade da
Bélgica, sendo que sua população é ainda maior que a de Bruxelas, tem um dos
maiores portos do mundo (até hoje, esse não estagnou não), além de ser um
centro de lapidação de diamantes. É, portanto, uma cidade grande e moderna. Mas
você que não vai trabalhar lá, obviamente só vai querer visitar o centro
histórico: sim há um centro histórico preservado. Uma grote markt (onipresente
em todas essas cidades), com o prédio da prefeitura, uma catedral gótica
incrível e muito alta, com obras do pintor Rubens expostas lá dentro, museu de
belas artes com obras de inúmeros flamengos famosos (como o próprio Rubens e o
Van Dyck).
(Torre da catedral gótica vista da Grote Markt)
Eu aconselho ir a Antuérpia de
trem, porque a estação central da cidade é simplesmente magnífica! Se esta for sua
primeira impressão da cidade, você certamente vai gostar. A via que te leva da
estação de trem até o centro histórico – dá para ir andando – é linda e cheia
de lojas, inclusive uma da Disney que eu sou apaixonada. =)
(Estação central em Antuérpia)
Diz a lenda que o nome Antuérpia
deriva de uma lenda envolvendo um
mítico gigante chamado Antigoon, que morava perto do rio Escalda. Ele cobrava
um imposto daqueles que atravessavam o rio e, para aqueles que se recusaram a
pagar, ele cortava uma de suas mãos e a atirava ao rio Escalda. Um dia, o gigante
foi morto por um jovem herói chamado Brabo, que cortou a mão do gigante
e atirou-o no rio. Daí o nome Antwerpen, Ant viria do hand que é mão em holandês, e
wearpan (arremessar). Essa lenda é celebrada pela estátua em frente à
prefeitura, nela vemos o Brabo arremessando uma mão! =)
(Estátua do Brabo atirando a mão do gigante - Antuérpia)
Para o sul, na região da Valônia, existem inúmeras cidades charmosinhas. Eu
vou começar por aquela que ostenta o nome de “menor cidade do mundo”:
Durbuy: É uma cidade que fica na província de Luxemburgo, mas não no “país”
Luxemburgo. Por incrível que pareça, a Bélgica tem uma província chamada
Luxemburgo que faz fronteira justamente com o Grão Ducado de Luxemburgo.
(As folhas amarelas são fruto do outono)
Essa sim, é “fofa” demais, de tão pequena não tem nem uma grote markt. Mas tem um rio, um castelo na beira dessas águas (rio Ourthe), ruazinhas charmosas, um jardim de esculturas (o Topiary Park), flores, igrejas... Vale uma tarde lá! =)
(Castelo em Durbuy)
(Ruazinhas incríveis em Durbuy)
(Fofura)
(Levamos o cachorro)
Abadia da Orval:
Você gosta de cervejas trapistas? Essas cervejas belgas bem fortes feitas
por monges? Gosta de monastérios medievais? Então você vai gostar da Abadia
Orval (Orval que dá nome à cerveja). A Igreja principal da abadia, gótica dos
séculos XII e XIII, hoje está em ruinas. É incrível! Impressiona demais o fato
de igrejas da mesma época, como a catedral de Colônia, a ainda mais antiga
catedral de Aachen, outras tantas igrejas aqui na Bélgica – inclusive muitas
que acabei de citar em Bruges e Antuérpia - a Notre Dame de Paris estejam todas
em pé, enquanto alguns monastérios do interior belga são só ruínas. (Esse de
Orval não é o único). Fui pesquisar e vi que, durante da Revolução Francesa, os
ataques e o fim da servidão levaram os monastérios e suas terras ao declínio.
Afinal, a abadia era um senhor feudal assim como os outros. E eles foram
abandonados, entrando em ruínas.
Imagino que as igrejas de áreas urbanas não sofreram esse processo de abandono das abadias feudais do interior. Por isso Notre Dame em Paris ou a catedral de Colônia estão lindas, em pé, tendo sido reformadas várias vezes, enquanto que outras igrejas no interior são hoje ruínas fantásticas.
Imagino que as igrejas de áreas urbanas não sofreram esse processo de abandono das abadias feudais do interior. Por isso Notre Dame em Paris ou a catedral de Colônia estão lindas, em pé, tendo sido reformadas várias vezes, enquanto que outras igrejas no interior são hoje ruínas fantásticas.
(Ruínas da igreja medieval - Orval)
Ao lado das ruínas, uma grande abadia dos séculos XVIII e XIX está em pé e
nela, até hoje, funciona a produção da cerveja Orval.
Rochehaut:
Não muito longe de Orval fica Rochehaut, que como diz o nome, é uma região
alta. Lá de cima se vê o vale, é bonito. E a cidadezinha parece de
boneca, muito pequena mesmo.
(A vista de Rochehaut)
(As casas de conto de fadas)
(A estrada com flores)
Para quem está no caminho, vale uma rápida passada para almoçar ou tomar um
lanche.
Ainda preciso falar sobre Namur, Dinant, Liege e Spa, mas isso eu deixarei para
o futuro. =) Por enquanto, digo que as cidades vizinhas na Alemanha, como Aachen e
Colônia (assim como Lille na França) também são agradáveis surpresas.
Em breve trago algo sobre Aachen, que me impressionou muito.
(Aachen - Alemanha!)
Parabéns pela matéria. Esta sendo util para meu planejamento de viagem.
ResponderExcluirboa tarde. vou estar em Paris e gostaria de saber vale a pena ir para bruxelas de carro. durante o percurso existe cidades intressantrs?
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