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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Os preços na Bélgica


     Nós sabemos que os preços no Brasil estão pela hora da morte.
     Entre as inúmeras razões para esse fenômeno, existe uma que me irrita bastante: essa febre do "gourmet", do "VIP", do "diferenciado", do "prime", do "exclusivo"... Até pipoca gourmet criaram, para arrancar nosso dinheiro. Tudo que leva esses adjetivos sai absurdamente mais caro. Nossa sorte é nosso humor: alguns gaiatos do Rio criaram uma nova moeda para essa cidade cada dia mais “prime”: o Surreal.
    Não paro de ouvir que as pessoas adoram "degustar" um vinho, que tal prato tem "redução" de tal ingrediente, que tal vinho “harmoniza” com tal comida, que o camarão é "salteado" na manteiga, etc.
    Aqui no blog eu bebo vinho (quem "degusta", pra mim, revira os olhos se deliciando com alguma coisa), "redução" é molho, vinho combina mais ou menos com as comidas e os camarões são fritos na manteiga. E quem cai no desejo de ser “exclusivo” e “diferenciado” é a Sheila do antigo “Terça Insana”, feita pelo hilário Luis Miranda. (http://www.youtube.com/watch?v=MhkTR_d84_M).
     Infelizmente, Bruxelas também é uma cidade relativamente cara, se compararmos com Nova Iorque, Miami, Madri, Lisboa, Berlim, Budapeste, etc. No entanto, ainda não é surreal como as cidades da Suíça, da Dinamarca, ou com o que vem se tornando – pasmem – Rio e Brasília. Por isso, podemos comparar preços e cair para trás com a margem de lucro de alguns empresários brasileiros.

     Vamos começar pelas cervejas:
     Eu moro na Bélgica e não bebo cerveja – é... eu sei, é um desperdício, mas é a verdade – porém, de tanto ver meus amigos bebendo, aprendi algumas coisas. Por exemplo, que as cervejas trapistas são as melhores.  
     Pelo que li no blog de cervejas artesanais, o Lupulinas, os monges produtores de cerveja trapista são da Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância e que, mesmo existindo 170 mosteiros desta ordem no mundo, apenas sete têm licença para produzir cerveja. Seis deles ficam na Bélgica (Rochefort, Westmalle, Westvleteren, Orval, Achel e Chimay) e só um na Holanda (La Trappe). Ou seja: a área é essa, onde moro! O paraíso da cerveja: a Bélgica e sua vizinha Holanda. 
     (Fonte: http://lupulinas.cartacapital.com.br/westvleteren-melhor-cerveja-do-mundo-que-so-se-bebe-ali-perto-onde-os-monges-produzem/)
        Uma Chimay no Brasil, por exemplo, não sai por menos de 20 ou 25 reais. Quanto custa aqui no supermercado? 1 euro. É: 1 euro. Corrijo: 1 euro e 02 centavos, vejam na foto abaixo:

 
     Nos restaurantes e bares, você pagará no máximo 4 euros. No Brasil seria quanto?
    Isso se explica apenas pelo fato dessa cerveja ser importada? 1 euro seria no máximo 3 Reais e 50 centavos. Mesmo que os impostos de importação fossem de 100% do valor da cerveja, mais o frete e o lucro do vendedor, tem algo de errado nesses 25 reais: eu posso estar enganada, mas vejo ganância associada à venda de uma ideia de status, exclusividade, gourmet, diferenciado, harmonizado, VIP.

     Ouvi dizer que duas ótimas cervejas belgas, de propriedade da InBev (associação da Ambev à cervejaria belga Interbrew) começaram a ser produzidas no Brasil, como Leffe e Stella Artois. E que – pasmem – como o preço baixou um pouco e elas se popularizaram mais, há quem agora as desdenhe! Quem? Gente VIP... Pois saibam que a Leffe aqui no supermercado estava um pouco mais cara que a Chimay: custava 1 euro e 54 centavos a unidade.
     O conjunto de 4 garrafas não fazia abatimentos, saindo por 6 euros e 15 centavos:


     Outra trapista, a Westmalle, sai por 1 euro e 02 centavos; a Rochefort sai por 2 euros e 12 centavos; e a La Trappe sai por 1 euro e 43 centavos:


     Também aprendi que essas cervejas trapistas são mais fortes, com alto teor alcoólico, e que nem todos do Brasil – acostumados a cervejas leves e a beber uma atrás da outra em churrascos e bares – costumam gostar. Beber uma só e parar, nem sempre é o que as pessoas querem. Mas aqui na Bélgica também tem cerveja levinha, como a Jupiler. A latinha sai por 95 centavos. Ou o grupo de 6 latas sai por 5 euros e 69 centavos:


     Aqui também descobri algo que antes me parecia inacreditável: cervejas achampagnadas! Elas vêm com as rolhas de champagne e tudo. São garrafas maiores e costumam ser mais caras. Amigos provaram uma das mais famosas, a Deus (é esse nome mesmo: Deus) e acharam bem estranho.
     Encontrei uma Deus em Bruges por 18 euros e 20 centavos. O que daria no máximo 63 Reais, mas é vendida a mais de 200 Reais no Brasil!!!


      Mas existem outras cervejas achampagnadas (quase todas têm essa linha, na verdade), inclusive a Leffe:


   Aqui também encontrei algumas cervejas bem inusitadas: como a La Corne, cujo copo é um chifre mesmo:

    
     Cervejas de côco, banana, cereja (a famosa Kriek que faz sucesso entre as mulheres) e outras excentricidades. Meu marido não gostou:


     A Delirium Tremens, do elefantinho rosa, que faz muito sucesso:





    

(Cerveja comemorativa aos 100 anos da Primeira Guerra Mundial, vendida em Bruges) 

(O que não falta é cerveja diferente!)

     Mas é claro que nem só de cervejas vive um supermercado! =)
     Tem também vinhos e chocolates! =)

     Encontramos vinhos por 3, 4 ou 5 euros. Os espumantes, um pouco mais caros, saem por 7, 8 ou 11 euros. 

     Mas e aqueles que carregam a denominação de origem de “champagne” e são mundialmente famosos e desejados, como um Veuve Clicquot?! Estão por 33 ou 34 euros (uns 105 reais), embora sejam vendidos no Brasil por 300 reais (255 se você tiver sorte).


     Mesmo os vinhos chilenos, que aqui também são vendidos no supermercado, assustam na comparação dos preços. Afinal, eles vêm de mais longe, e tem o mesmo preço do Brasil. Custam uns 5 euros e 55 centavos (o que na conversão daria uns 17 reais, o preço que é cobrado no Brasil mesmo). Estranho, ne?


     O fato é que também não conheço nada de vinhos e como pouco chocolate... (Sei que não estou vivendo uma verdadeira experiência belga). Mas lembro de um amigo que mandou uma mensagem de whatsapp todo entusiasmado com um chocolate belga que ela havia comido. Pensei: deve ser de uma dessas chocolaterias famosas que tem por aqui, como a Leônidas, a Godiva, a Neuhaus ou a Pierre Marcolini. Não era! Era com um Côte D’Or! Fiquei surpresa, afinal, Côte D’Or é um chocolate de supermercado! Baratinho mesmo. Prometi levar vários para ele quando eu fizesse uma viagem de volta.




     A questão é que aqui os produtos de supermercado (que não são “exclusivos”) são muito bons mesmo. E mesmo quando você quer meter o pé na jaca da “exclusividade”, como comprar chocolates Neuhaus – empresa fornecedora da família real belga –, você pode fazer de um jeito mais econômico. Não compre nas lojas Neuhaus espalhadas pela cidade, elas são caras. 25 euros, 30 euros uma caixa com poucos ganaches e trufas de chocolates. Linda, com os símbolos de Bruxelas, chique, maravilhosa: mas cara! Existe um OUTLET da Neuhaus, onde você compra as mesmas caixas por quase a metade do preço!
E – preste atenção – se você comprar uma caixa simples de papelão, sem identificação e parafernálias fofas, com 1 KG de chocolates (ganaches, trufas, pralinés, etc) sai por 20 euros. Eu disse: 1 KG de Neuhaus!

     Esse post já está muito grande. Depois prometo fazer um novo post com os preços de produtos menos alcoólicos ou menos açucarados! =)
     A tristeza está no preço das carnes de vaca, frango e peixes... =(  Nas caixas de suco e algumas frutas.


     PS: Sei que não devemos simplesmente converter o Euro para Real, para sabermos o verdadeiro impacto do preço das coisas. Para um turista, até faz sentido, mas para entender o impacto financeiro na vida das pessoas não. Afinal, como o salário mínimo aqui na Bélgica é de 1.200 euros (o que daria +/- 3.600 reais), contra os quase 800 reais que pagamos no Brasil, uma cerveja de 1 euro é sim, para um belga, muito mais barata que uma cerveja de 3 reais para um brasileiro (em relação a sua proporção no salário), embora a conversão seja essa. Ou seja: os preços aqui são de fato mais baratos e têm um impacto menor no salário dos belgas.

sábado, 9 de agosto de 2014

O palácio real de Bruxelas está de portas abertas! E é gratuito.

           Eu prometi fazer esse post há alguns meses. Acabei me encantando por outros assuntos, mas o faço agora, já que o palácio encontra-se novamente aberto a visitação, até 7 de setembro.
Sim, é preciso correr, pois o palácio só fica aberto 6 semanas por ano. Agosto inteiro e um pedacinho de setembro: é assim desde 1976. Ele localiza-se na colina de Coudenberg, onde antes existia o antigo Palácio de Coudenberg, morada dos Duques de Brabant e governantes austríacos e espanhóis (entre eles Carlos V), mas que pegou fogo em 1731 e foi totalmente destruído.

(Antigo Palácio de Coudenberg, existente desde o século XII e continuamente aumentado e reformado até o século XVIII, quando foi destruído por um incêndio)

As ruínas lá permaneceram por algumas décadas, mas foram diminuídas e soterradas para a construção do novo palácio, que se iniciou em 1780.
Um dia faço um post sobre a intricada história belga, mas já adianto que sua independência ocorreu em 1830, e o primeiro rei belga, Leopoldo I, logo se mudou para o palácio. Algumas mudanças foram feitas nessa época, mas a aparência grandiosa e neoclássica que ele hoje apresenta se deu nas reformas do rei Leopoldo II, o tal que lamentavelmente foi dono do Congo.
Se você puder esquecer-se de onde vinha o dinheiro para a reforma do palácio, e apenas apreciar sua beleza, saiba que foi no reinado de Leopoldo II que a Grande Sala do Trono, repleta de lustres de cristal; o Salão de Mármore; a Escadaria de Veneziana; e a fachada clássica em estilo Luis XVI foram realizadas. Algumas dessas obras se estenderam após sua morte, em 1909. O lugar é lindo! Há também uma sala para recreação infantil, no final da visita.

(A grandiosa Sala do Trono e seus inúmeros lustres)

(Escadaria com pinturas a óleo de Veneza, feitas em 1867 por Jean-Baptiste van Moer)

(Outro ângulo da Escadaria Veneziana)

(Retratos de Leopoldo I e sua esposa Louise-Marie)

(Detalhes dos adornos e mobiliários)


(Espaço para recreação infantil)

Para quem quiser visitar o museu arqueológico que vai aos subterrâneos do antigo palácio medieval de Coudenberg (o que pegou fogo), a entrada se dá pelo Museu Belvue, que fica ao lado do palácio real. A visitação dessas ruínas subterrâneas custam 6 euros, já o palácio real tem entrada gratuita.
Se você não consegue desvincular a beleza do prédio com a possessão do Congo no século XIX, saiba que ao menos não há cobrança de ticket de entrada...

(Fachada do palácio)

Lembre-se: De 22 de julho a 7 de setembro!
Não abre segundas-feiras. Visitação de terça a domingo, de 10:30 até às 17:00h, última entrada às 16:30.

Entrada franca.