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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Atenas - com crianças - no verão.



Atenas? Mas esse blog não é sobre a Bélgica? Bruxelas?

Sim, mas de Bruxelas também se vai ao mundo. Eu diria mais: a localização geográfica de Bruxelas favorece inúmeras viagens pela Europa. E o fato de ser capital da União Europeia, com inúmeras companhias aéreas pousando aqui (muitas LowCost), facilita ainda mais. Para se ter uma ideia, a viagem Bruxelas – Verona (Itália) demora 1 hora e 15 minutos: maravilha dos deuses! Bruxelas – Lisboa: 2 horas e 10 minutos. Bruxelas – Istambul: 3 horas. Bruxelas – Atenas: 3 horas também. Com antecedência, você encontra passagens da Aegean Airlines por 80 euros (trecho até Atenas). A volta, não sei por qual razão, é um pouco mais cara: com antecedência por 100 euros. Se você mora aqui pelas redondezas: vá, que vale muito a pena!
(Eu sou uma pessoa viciada em Ryanair, que cobra passagens camaradas de 40 ou 50 euros. Mas, infelizmente, ela não faz Bruxelas-Atenas. Ela só pousa em Atenas partindo de outras capitais, talvez Roma... Daqui de Bruxelas, por esses preços camaradas – que você só consegue comprando com antecedência – sei que a Ryanair pousa na ilha de Creta, na ilha de Rodes, em Tessalônica e na fabulosa ilha de Zakynthos, onde tem a cobiçadíssima praia Navagio). Vá de Aegean mesmo. 


Para qualquer pessoa nascida no Ocidente, visitar a Grécia é como ter a chance de ver as raízes de uma árvore muito antiga, plantada naquele quintal da nossa escola primária, o subsolo de nossa casa, as emoções, defeitos e qualidades que nos regem.
Quando uma viagem é muito boa, a gente não pode esquecer de dar dicas, a quem quer que seja, que venha a pousar os olhos sobre esse texto. Por isso, venha comigo pelas ruas de Atenas.

Dica 1 – quando ir: Se você quiser casar Atenas com praias de alguma ilha grega, eu aconselho ir no verão (julho, agosto ou início de setembro). Por que? Porque embora haja muito sol e calor desde abril/maio, o mar da Grécia é frio na maior parte do ano, e aquela água maravilhosamente azul e transparente só estará convidativa para um banho sem gelo nessa época do ano (julho/agosto). Afinal, se o que você quiser é só olhar um mar bonito, mas geladíssimo, pode ir para Arraial do Cabo. Gelo por gelo e lindeza por lindeza, Arraial sai mais barato.  =o) 

Minha irmã e minha sobrinha adorando Mykonos!

O combo mar bonito + temperatura da água agradável na Grécia = julho, agosto e início de setembro. O problema é: como lidar com o calor de Atenas em agosto? Sobretudo com bebês e crianças. Ou você esquece as praias e vai a Atenas em qualquer outra época do ano mais fresca, ou pratica essas táticas de guerra aqui:
1)      Procure um hotel com piscina.
2)      Procure um hotel bem próximo à Acrópole, existem alguns.
3)      Tome café da manhã e fique na piscina com seus filhos. Você pode até sair para almoçar na rua, mas só vá à Acrópole depois das 5 ou 6 da tarde. Ela fica aberta até às 8 da noite, em agosto, que é quando começa a escurecer em Atenas nessa época do ano. Lembre-se, a Acrópole é um sítio arqueológico: é terra, chão pedregulhoso e sol na cabeça o tempo todo.
4)      Se quiser sair de manhã ou bem no meio da tarde para visitar algum lugar turístico: o Museu da Acrópole é a melhor pedida. Além de ar condicionado, Wifi, e restaurante, vocês vão encontrar as peças originais que foram retiradas lá de cima da Acrópole e vídeos explicativos das mudanças sofridas naquele lugar com mais de 2000 anos de história.
5)      Visite as lojinhas que ficam tanto na rua do Museu (que é a rua que sobe em direção à escadaria da Acrópole – a Dionysiou Areopagitou – ) quanto nas ruas em volta. É o tradicional bairro de Plaka. Elas ficam abertas até tarde, algumas só fecham meia noite.

Com 2 dias inteiros livres (3 noites), o que eu pude ver em Atenas: Basicamente a Acrópole com todos os seus monumentos, o imperdível Museu da Acrópole (que fica na parte baixa), o Templo de Zeus Olímpico (bem próximo) e a Praça do Monastério.
Acrópole vista do hotel A for Athens, na praça do Monastério.
Você pode subir para ir ao bar, mesmo não sendo hóspede.

Quais foram nossos erros: Como nós queríamos usar um dia para fazer Museu da Acrópole + a própria Acrópole, com o intuito de usar o outro dia para visitar a cidade de Delfos (que fica a 2 horas de Atenas, a célebre cidade onde ficava o Oráculo mais famoso da antiguidade, usado até por personagens mitológicos e/ou literários, como Édipo, que ouviu a profecia de que mataria seu pai e casaria com sua mãe), nós erroneamente escolhemos visitar a Acrópole bem no horário do almoço, na intenção de depois comermos alguma coisa rápida e visitarmos o museu (que também fica aberto até bem tarde, na sexta feira ele fecha às 10 da noite!).
Resultado: um calor terrível, olhos fechadinhos e testa franzida nas fotos, e desistência de ir a Delfos com um bebê no dia seguinte: afinal, lá, o que se visita também é o sítio arqueológico de Delfos: Sol na cabeça.
Então, usamos o final do dia para ficar na piscina e visitar as lojinhas (são muitas na rua do museu, e à direita também, num emaranhado de ruelas com lojinhas e restaurantes, o bairro de Plaka). O dia seguinte foi de museu da Acrópole e mais lojinhas. E, lá pelas 7:15 da noite, eu fui visitar o Templo de Zeus Olímpico, bem diante do nosso hotel.
Apesar da desistência de ir a Delfos e do sol na moleira, foi tudo ótimo e lindo!  =) 
 
Restaurantes e lojinhas.
Dica 2: Não acredite nessas pessoas que dizem que Atenas não tem graça, pois se você gosta de história antiga, de mitologia greco-romana, de história do teatro, de história do Império Romano, da expansão do Império Turco Otamano, você vai amar. E se você gosta dessas ruelas charmosas, estreitas, esses labirintos de lojinhas e restaurantes, você também vai gostar. Eu marquei essa região de lojinhas aqui em branco no mapa abaixo (Plaka). Também marquei onde ficava o meu hotel, pertinho da Acrópole e dessa região de lojinhas. 


Nós prometemos voltar para ver Delfos quando nosso filho for mais velho, quem sabe daqui uns 10 anos.
Dica 3: Restaurantes que aconselho: O restaurante do nosso hotel, o Royal Olimpic Hotel, tem uma vista fantástica do Templo de Zeus Olímpico (fica bem de frente) e também para a Acrópole, na lateral esquerda. Recomendo muito esse hotel! De manhã o restaurante serve café da manhã para os hóspedes, mas à noite ele é aberto ao público externo também (além do bar ali ao lado), mas a comida é mais cara e chique. Para você que está procurando um restaurante romântico, com vista incrível, comida chique e preço mais salgado: esse é o lugar.
Vista da Acrópole do restaurante do hotel Royal Olimpic.

 
Vista do Templo de Zeus Olímpico do restaurante do hotel Royal Olimpic.

Olha a vista do café da manhã!  =)

Na rua mesmo, eu recomendo dois:
 Um mais pela localização, embora a comida não decepcione (mas também não encante incrivelmente). Ele fica nessa praça aqui abaixo (praça do Monumento de Lysicrates), lá no labirinto das lojinhas, que você certamente encontrará. No centro da praça, o que você está vendo são mais ruínas, a cidade é repleta delas. O restaurante fica aí embaixo desse conjunto de árvores. (Não se trata desse Daphne’s nem do Elis, é o que está camuflando entre as árvores ali do outro lado). Muito agradável jantar ali, no meio da rua, embaixo das árvores, ouvindo as cigarras. 

Praça do Monumento de Lysicrates.

Olha como ele é agradável!  =)

Não muito distante dali, ainda no labirinto, tem um restaurante chamado Estia. Esse sim, como informa sua plaquinha de ganhador de indicações do Tripadvisor, tinha uma comida maravilhosa!!! A carne de carneiro se soltava do osso com uma facilidade incrível, e naturalmente desmanchava na minha boca! =) 

Restaurante Estia.

Carneiro do restaurante Estia: derrete na boca!  =)

A Acrópole e seu museu:

A Acrópole, cidade alta, era tida como um rochedo sagrado, usado como local de culto, onde se construíam templos religiosos. Naturalmente, os gregos achavam que seus principais templos deveriam ficar no alto, perto dos deuses. Outras cidades da Grécia Antiga também tinham suas Acrópoles. Na cidade baixa de Atenas também existiam outros templos, como o que eu citei de Zeus Olímpico na frente do meu hotel, mas aqueles dedicados à patrona da cidade, a deusa Atena (em grego Athina, o mesmo nome da famosa bilionária grega Athina Onassis), ficavam na sagrada Acrópole.
Acrópole em tempos antigos.
 
Acrópole hoje.
As construções mais famosas da Acrópole são a entrada triunfal – chamada de Propileus –; ao lado dessa entrada o pequeno templo de Atena Nike (Atena vitoriosa); naturalmente não posso deixar de mencionar o maior templo ali em cima, o Pártenon; também o Erectéion – meu preferido – (que tem uma ala onde, ao invés de colunas sustentarem o teto, são mulheres: as famosas Cariátides; o Odeon ali na lateral inferior; e o teatro de Dionísio. 

Vista de Atenas lá de cima da Acrópole. Essas mulheres-colunas são as Cariátides.

Quase todos os templos ali construídos são posteriores ao ano 480 AC (AC = antes de Cristo). Antes disso já existiam templos na Acrópole, mas eles foram destruídos pela invasão persa de 480 AC. Então, o que você verá são construções de 432 AC (Propileus), 421 AC (templo de Atena Nike); 438 AC (Pártenon), quase todos – como se percebe – aproximadamente da mesma época. Quando contamos os anos Antes de Cristo (AC) até os dias atuais, as datas decrescem. Então, 480 AC (ano da invasão Persa) é data anterior à reconstrução do Pártenon, terminada em 438 AC. Os gregos levaram, então, aproximadamente uns 50 anos para reconstruírem tudo.
Tenha em mente que o que você está vendo no alto daquela colina tem, portanto, uns 2440 anos – pelo menos! Vou repetir: mais de dois mil e quatrocentos anos!!!

E algumas das obras que você verá no museu são achados arqueológicos da primeira Acrópole, aquela anterior à invasão Persa de 480 AC. Ou seja: Atenas são as brumas do tempo. Você vai se perder em tanto fazer contas. (Por exemplo: para se ter uma noção, os textos do museu trazem até informações sobre a Atenas da época micênica, coisa que remete à 1600 AC. Mais de 3600 anos, gente! Minha cabeça não dá conta disso tudo, e correndo atrás do meu filho de 1 ano e 9 meses, então, fica ainda mais difícil). No entanto, a gente sempre consegue absorver algumas coisas: e o mais legal dessa viagem é que eu aprendi muito. E eu simplesmente adoro aprender! Vem comigo, deixa eu dividir um pouco!  =)

Propileus: Eu não sabia que as Acrópoles tinham, quase todas, uma entrada triunfal. Não era simplesmente uma porta na muralha que a cercava, era um templo de colunatas, com algumas portas ao fundo (nesse caso eram 5), dando acesso à cidade sagrada: é assim que se entra em terreno sagrado, já mostrando a supremacia dos deuses aos reles mortais. 

Propileus antes.
 
Propileus hoje.
Eu, que adoro colunas gregas, comprei um livreto sobre Atenas e aprendi que os Propileus tinham bem na frente 6 colunas dóricas (aquelas cujo topo – ou capitel – é mais sóbrio, simples) e no interior do templo existiam duas filas de colunas jônicas, em direção a porta principal (aquelas cujo capitel é ornado com uma espécie de caracol de cada lado). Colunas coríntias (aquelas cujo capitel é totalmente ornado com folhas) eu só vi no Templo do Zeus Olímpico, mas são as que eu mais gosto. Os Propileus, então, são um misto arquitetônico dórico e jônico.
Durante quase todo o período greco-romano, sobretudo após as principais batalhas que as cidades gregas enfrentaram, as construções da Acrópole foram bem preservadas. No entanto, ao final do período romano, quando o cristianismo já se alastrava, aquele reduto de templos pagãos iria entrar em decadência. Por exemplo, no período Bizantino, os Propileus foram convertidos em sede do Episcopado e mais tarde (já adentrando nos primórdios da Idade Média europeia), os Francos instalaram ali os serviços administrativos do Ducado de Atenas. Como nós sabemos, os Turcos Otomanos (islâmicos) tomaram Constantinopla em 1453. Assim, em pouco tempo regiões outrora dominadas pelos bizantinos, como Atenas, passaram para controle islâmico. E as cruzes colocadas naqueles templos que um dia foram pagãos, caíram para darem espaço a minaretes, onde se pudesse clamar que Alah é grande. Vocês sabem o que os otomanos fizeram com os Propileus? Um deposito de pólvora!!! Em 1645 um raio caiu na Acrópole e os Propileus explodiram! É por isso que só vemos as colunas pela metade, bem destruídas.

Eu e o mundaréu de gente na frente dos Propileus.

Nessa entrada da Acrópole, o que você vir à esquerda era a antiga pinacoteca. E o que você vir à direita era o templo de Atenas Nike.

Templo de Atenas Nike: Fica bem ao lado dos Propileus. Nike, como aquela marca de produtos esportivos, quer dizer vitória. Normalmente, qualquer divindade representada em sua forma Nike – vitoriosa – portava asas. É por isso que você talvez já tenha visto mulheres aladas nas medalhas olímpicas. Dentro do Pártenon existia uma estátua gigantesca de Atena totalmente armada (já que foi assim que ela nasceu dentro da cabeça de Zeus), mas sem asas. Esperava-se que sua estátua dentro do templo Nike tivesse asas. No entanto, os atenienses achavam que Atena chegou na cidade voando, mas não queriam que ela abandonasse a cidade: por isso sua estátua dentro do templo Nike não era alada...
Ali as colunas são jônicas (mais ornadas que as dóricas e por isso mais usadas em templos para divindades femininas) e os quatro frisos, lá em cima de cada lado do templo, têm uma ornamentação em alto relevo mostrando deuses do olimpo. São réplicas, pessoal! Os originais do lado norte e oeste estão no Museu Britânico em Londres... =(
O Ministério da Cultura da Grécia vem promovendo uma campanha para que a Inglaterra devolva esses frisos, levados lá nos idos do século XIX. Os outros fragmentos do friso deste templo, e dos demais, estão dentro do Museu da Acrópole, lá em baixo na rua, como eu havia falado.
Esse é um dos baratos de visitar o Museu da Acrópole: em matéria de frisos, estátuas e demais ornamentações, os originais foram levados para o museu da Acrópole (ou para o Museu Britânico), e ali ao relento da Acrópole encontram-se apenas cópias. O que há de original naquela colina sagrada são as bases e as colunas dos templos. Mas não pense em mexer nas pedrinhas no chão! Meu filho agarrou uma e uma fiscal recolocou-a no mesmo lugar onde ele a pegou. Não se tratava apenas de soltar a pedrinha, ela teve que voltar para um lugar específico: pedrinha, pequenininha.

O Pártenon: O maior e principal templo da Acrópole, lá dentro havia a tal estátua gigantesca e ornada em ouro da deusa Atena, do escultor Fídias. Totalmente armada, trazia uma pequena deusa Nike numa das mãos. Outras estátuas suas são representadas com uma coruja. 

Pártenon antes.
 
Pártenon hoje.
Seu nome quer dizer câmara da deusa Atena Parthenos. Parthenos significa virgindade. Vamos relembrar a história de Atena: quando Zeus – a divindade máxima – engravidou Métis, ouviu de um oráculo que se tivesse uma filha, ela seria mais poderosa que ele. Para evitar isso, ele engoliu Métis, com intuito que Atena não nascesse. No entanto, a gestação de Atena continuou, e bem no cérebro dele. É por isso que ela é considerada a deusa da sabedoria, porque foi gestada no cérebro de Zeus, e por isso que a coruja – animal que ela portava em algumas representações – é símbolo da sabedoria na cultura ocidental. Com dores de cabeça terríveis, Zeus pediu que o ferreiro dos deuses abrisse sua cabeça: e dali nasceu Atena totalmente armada (capacete, armadura no corpo, armas na mão). 


Além da sabedoria (e muito em virtude da sabedoria) ela também é identificada como a deusa da Justiça. Por isso algumas representações suas trazem uma daquelas balanças na mão. É também por isso que dizem que Zeus sofria muitas dores de cabeça, pois quando a Justiça ainda não havia nascido no mundo, as dores de cabeça eram certamente terríveis. Bonito, né?  =)
Na ressignificação romana da cultura grega, Atena ganhou o nome de Minerva (e Zeus de Júpiter, Afrodite de Vênus, etc). É por isso que você talvez já tenha ouvido o termo: “a coruja de Minerva”. E é por isso que nas lojas de souvenir de Atenas uma das coisas que nós mais encontramos são corujinhas de pedra e gesso para darmos de presente.  =)
Voltando à virgindade de Atena: como ela era a deusa da Justiça, pediu ao pai para que fosse sempre virgem, a fim de que não fosse jamais corrompida por paixão nenhuma.
Como vocês podem ver, Atena surgia (ou era interpretada) de diversas formas: por isso escutamos comumente o nome Palas Atena, que seria a Atena "da cidade" (Atena Pólias), ou Atena do Paládio, protetora de várias pólis, incluindo Atenas, Argos, Esparta, Gortina, Lindos e Larisa. Vimos a tal Atena Nike (que incrivelmente não estava alada); a Atena Partenos (a virgem, cultuada no Párthenon da Acrópole); a Atena Higéia, deusa das "boas condições de saúde" e da fertilidade dos campos. Era com este epíteto que ela se associava a versão romana de Deméter. E também a Atena Hípia (sobre um cavalo), protetora desses animais, além de outras mais.
O Pártenon é um templo totalmente dórico de inúmeras colunas, e os frisos, lá no alto da entrada do templo, eram totalmente coloridos. Nós que achamos que as estátuas e demais ornamentações greco-romanas eram sempre branquinhas como o mármore em que foram esculpidas – o que nos remete a uma elegância clean –, às vezes esquecemos que muitas delas eram coloridas. Os pigmentos é que sumiram com o passar dos séculos.
Sua sina foi muito parecida com a dos Propileus: em 1204 os Francos da quarta cruzada converteram-no num templo católico (com cruz e tudo) e depois, em 1460, os turcos otomanos o transformaram em mesquita (com minarete). O golpe final também veio no século XVII (dessa vez não mais por um raio, como no caso dos Propileus, mas pelo mesmo motivo: depósito de pólvora). Em 1687 (42 anos depois do raio que destruiu os Propileus), os venezianos invadiram Atenas. Sim, venezianos, habitantes de Veneza (lembrem-se que o país Itália ainda não existia), que morriam de medo de serem anexados nesse grande Império Otomano islâmico. Os venezianos bombardearam o Pártenon, que também guardava pólvora, e ele explodiu. Como se não bastasse, o povo das gôndolas tentou levar algumas estátuas acopladas às ruínas, partindo-as ainda mais. No século XIX, a Inglaterra teve permissão do Império Otomano para levar inúmeras peças soltas embora. 

Réplica da deusa Atena, dentro do Pártenon em Nashville, EUA!

Aqui vai uma informação inacreditável: se você quiser ver uma réplica perfeita do Pártenon, em tamanho real, pode ir a Nashville, no Tennessee, Estados Unidos! Foi construído em 1897, como parte de uma Exposição Universal. E lá dentro, como no tempo dos gregos antigos, tem uma estátua monumental de Atena, réplica das réplicas de Fídias.

O Erectéion: Esse é o que eu mais gosto. Era um templo para adoração de diversos deuses, e não apenas Atena, como Poseidon e Hefestos. Era também túmulo de alguns reis e heróis. Na entrada, 6 colunas jônicas, mas o que eu gosto mesmo é do pórtico das Kores, que é sustentado não por colunas, mas por 6 Cariátides: mulheres que servem de suporte ao prédio. Cariátides são as mulheres nascidas em Cárias, uma região da Lacônia, na Grécia, que os romanos diziam ser muito bonitas: daí veio o nome, que nunca mudou. Vocês já sabem: essas 6 Cariátides são réplicas! As cinco originais estão no Museu da Acrópole, mas uma delas foi levada à Londres no século XIX e nunca mais voltou: está no Museu Britânico. Diziam os atenienses dos oitocentos que podiam ouvir o lamento das outras cinco que perderam uma das irmãs, depois de mais de 2 mil anos juntas.

Erectéion antes.
 
Erectéion hoje.



 
As Cariátides originais no Museu da Acrópole: vejam que falta uma...
Eu conhecia as Cariátides, embora não soubesse o nome, do Museu do Louvre. Afinal, no Renascimento, houve uma ressurreição da arte greco-romana, e o Palácio do Louvre ganhou uma sala que ficou conhecida como a Sala das Cariátides, já que 4 belas mulheres de mármore sustentavam o coro dos músicos: hoje é uma das salas de esculturas do museu. Não aquele lindo pátio com teto de vidro e inúmeras estátuas dos oitocentos, mas uma sala justamente com esculturas do Renascimento, onde fica – por exemplo – a o hermafrodita adormecido (que embora seja muito antigo, ganhou um colchão de mármore, que mais parece pena de ganso, no Renascimento). 

Cariátides renascentistas no Museu do Louvre, segurando o coro dos músicos.

Ainda acoplado à colina sagrada da Acrópole, mas em partes mais baixas, nós encontramos o Odeon, que era uma espécie de teatro em semicírculo, fechado, com teto de madeira. É por isso – e eu não sabia – que inúmeros cinemas e salas de espetáculo mundo afora levam o nome de Odeon! Como no centro do Rio de Janeiro, na Cinelândia, o Odeon resiste em pé.

Odeon antes.

Odeon hoje.
Além do Odeon de Atenas, existe o Teatro de Dionísio. Embora não fosse templo, sua proximidade ao alto da Acrópole talvez remeta às origens das peças de teatro, uma experiência religiosa de catarse. Para visitar o teatro, basta comprar o tíquete na bilheteria da Acrópole. Eu não desci os degraus para ver, porque o Sol estava de rachar e nós tínhamos um bebê, e sabíamos que teríamos que subir tudo de volta depois. Mas a descida para ver o teatro fica antes de chegarmos aos Propileus, é fácil de achar. Vimos de cima mesmo.

Teatro de Dionísio.


Últimos lembretes sobre a Acrópole:
1)      As pedras escorregam bastante, cuidado com o sapato escolhido, cuidado com pessoas de mais idade.
2)      Você não pode entrar com carrinho de bebê, existe uma casinha para deixá-los guardados.

Templo de Zeus Olímpico: Esse fica na parte baixa da cidade, fora da Acrópole, mas muito perto, dá para ir andando. Todas as colunas são coríntias. Esse templo só foi terminado na época do Imperador Adriano, em época de dominação romana. Dando uma passeada pela Wikipedia, acho que agora entendo porque os romanos gostavam tanto das colunas coríntias: “Grécia romana é o período da história grega após a vitória romana sobre os coríntios, na Batalha de Corinto em 146 a.C, até o restabelecimento da cidade de Bizâncio e sua nomeação pelo imperador Constantino como a capital do Império Romano.”

Templo de Zeus Olímpico.

Olha a Acrópole lá no alto.

Já te convenci a ir a Atenas? =)
Próximo post será sobre Mykonos! 

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