Nós
sabemos que os preços no Brasil estão pela hora da morte.
Entre
as inúmeras razões para esse fenômeno, existe uma que me irrita bastante: essa
febre do "gourmet", do "VIP", do "diferenciado",
do "prime", do "exclusivo"... Até pipoca gourmet criaram,
para arrancar nosso dinheiro. Tudo que leva esses adjetivos sai absurdamente
mais caro. Nossa sorte é nosso humor: alguns gaiatos do Rio criaram uma nova
moeda para essa cidade cada dia mais “prime”: o Surreal.
Não paro de ouvir que as pessoas adoram "degustar" um vinho, que tal
prato tem "redução" de tal ingrediente, que tal vinho “harmoniza” com
tal comida, que o camarão é "salteado" na manteiga, etc.
Aqui
no blog eu bebo vinho (quem "degusta", pra mim, revira os olhos se
deliciando com alguma coisa), "redução" é molho, vinho combina mais
ou menos com as comidas e os camarões são fritos na manteiga. E quem cai no
desejo de ser “exclusivo” e “diferenciado” é a Sheila do antigo “Terça Insana”,
feita pelo hilário Luis Miranda. (http://www.youtube.com/watch?v=MhkTR_d84_M).
Infelizmente,
Bruxelas também é uma cidade relativamente cara, se compararmos com Nova Iorque,
Miami, Madri, Lisboa, Berlim, Budapeste, etc. No entanto, ainda não é surreal
como as cidades da Suíça, da Dinamarca, ou com o que vem se tornando – pasmem –
Rio e Brasília. Por isso, podemos comparar preços e cair para trás com a margem
de lucro de alguns empresários brasileiros.
Vamos
começar pelas cervejas:
Eu
moro na Bélgica e não bebo cerveja – é... eu sei, é um desperdício, mas é a
verdade – porém, de tanto ver meus amigos bebendo, aprendi algumas coisas.
Por exemplo, que as cervejas trapistas são as melhores.
Pelo
que li no blog de cervejas artesanais, o Lupulinas, os monges produtores de
cerveja trapista são da Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância
e que, mesmo existindo 170 mosteiros desta ordem no mundo, apenas sete têm
licença para produzir cerveja. Seis deles ficam na Bélgica (Rochefort,
Westmalle, Westvleteren, Orval, Achel e Chimay) e só um na Holanda (La Trappe).
Ou seja: a área é essa, onde moro! O paraíso da cerveja: a Bélgica e sua vizinha
Holanda.
(Fonte: http://lupulinas.cartacapital.com.br/westvleteren-melhor-cerveja-do-mundo-que-so-se-bebe-ali-perto-onde-os-monges-produzem/)
Uma
Chimay no Brasil, por exemplo, não sai por menos de 20 ou 25 reais. Quanto
custa aqui no supermercado? 1 euro. É: 1 euro. Corrijo: 1 euro e 02 centavos,
vejam na foto abaixo:
Nos
restaurantes e bares, você pagará no máximo 4 euros. No Brasil seria quanto?
Isso
se explica apenas pelo fato dessa cerveja ser importada? 1 euro seria no máximo
3 Reais e 50 centavos. Mesmo que os impostos de importação fossem de 100% do
valor da cerveja, mais o frete e o lucro do vendedor, tem algo de errado nesses
25 reais: eu posso estar enganada, mas vejo ganância associada à venda de uma
ideia de status, exclusividade, gourmet, diferenciado, harmonizado, VIP.
Ouvi
dizer que duas ótimas cervejas belgas, de propriedade da InBev (associação
da Ambev à cervejaria belga Interbrew)
começaram a ser produzidas no Brasil, como Leffe e Stella Artois. E que –
pasmem – como o preço baixou um pouco e elas se popularizaram mais, há quem agora
as desdenhe! Quem? Gente VIP... Pois saibam que a Leffe aqui no supermercado
estava um pouco mais cara que a Chimay: custava 1 euro e 54 centavos a unidade.
O
conjunto de 4 garrafas não fazia abatimentos, saindo por 6 euros e 15 centavos:
Outra
trapista, a Westmalle, sai por 1 euro e 02 centavos; a Rochefort sai por 2
euros e 12 centavos; e a La Trappe sai por 1 euro e 43 centavos:
Também
aprendi que essas cervejas trapistas são mais fortes, com alto teor alcoólico, e
que nem todos do Brasil – acostumados a cervejas leves e a beber uma atrás da
outra em churrascos e bares – costumam gostar. Beber uma só e parar, nem sempre
é o que as pessoas querem. Mas aqui na Bélgica também tem cerveja levinha, como
a Jupiler. A latinha sai por 95 centavos. Ou o grupo de 6 latas sai por 5 euros
e 69 centavos:
Aqui
também descobri algo que antes me parecia inacreditável: cervejas
achampagnadas! Elas vêm com as rolhas de champagne e tudo. São garrafas maiores
e costumam ser mais caras. Amigos provaram uma das mais famosas, a Deus (é esse
nome mesmo: Deus) e acharam bem estranho.
Encontrei
uma Deus em Bruges por 18 euros e 20 centavos. O que daria no máximo 63 Reais,
mas é vendida a mais de 200 Reais no Brasil!!!
Mas
existem outras cervejas achampagnadas (quase todas têm essa linha, na verdade),
inclusive a Leffe:
Aqui também encontrei algumas cervejas bem inusitadas: como a La Corne, cujo copo é um chifre mesmo:
Cervejas de côco, banana, cereja (a famosa Kriek que faz sucesso entre as mulheres) e outras excentricidades. Meu marido não gostou:
A Delirium Tremens, do elefantinho rosa, que faz muito sucesso:
(Cerveja comemorativa aos 100 anos da Primeira Guerra Mundial, vendida em Bruges)
(O que não falta é cerveja diferente!)
Mas é
claro que nem só de cervejas vive um supermercado! =)
Tem
também vinhos e chocolates! =)
Encontramos
vinhos por 3, 4 ou 5 euros. Os espumantes, um pouco mais caros, saem por 7, 8
ou 11 euros.
Mas e aqueles que carregam a denominação de origem de “champagne”
e são mundialmente famosos e desejados, como um Veuve Clicquot?! Estão por 33
ou 34 euros (uns 105 reais), embora sejam vendidos no Brasil por 300 reais (255
se você tiver sorte).
Mesmo
os vinhos chilenos, que aqui também são vendidos no supermercado, assustam na
comparação dos preços. Afinal, eles vêm de mais longe, e tem o mesmo preço do
Brasil. Custam uns 5 euros e 55 centavos (o que na conversão daria uns 17
reais, o preço que é cobrado no Brasil mesmo). Estranho, ne?
O
fato é que também não conheço nada de vinhos e como pouco chocolate... (Sei que
não estou vivendo uma verdadeira experiência belga). Mas lembro de um amigo que
mandou uma mensagem de whatsapp todo entusiasmado com um chocolate belga que
ela havia comido. Pensei: deve ser de uma dessas chocolaterias famosas que tem
por aqui, como a Leônidas, a Godiva, a Neuhaus ou a Pierre Marcolini. Não era!
Era com um Côte D’Or! Fiquei surpresa, afinal, Côte D’Or é um chocolate de
supermercado! Baratinho mesmo. Prometi levar vários para ele quando eu fizesse
uma viagem de volta.
A
questão é que aqui os produtos de supermercado (que não são “exclusivos”) são
muito bons mesmo. E mesmo quando você quer meter o pé na jaca da “exclusividade”,
como comprar chocolates Neuhaus – empresa fornecedora da família real belga –,
você pode fazer de um jeito mais econômico. Não compre nas lojas Neuhaus
espalhadas pela cidade, elas são caras. 25 euros, 30 euros uma caixa com poucos
ganaches e trufas de chocolates. Linda, com os símbolos de Bruxelas, chique,
maravilhosa: mas cara! Existe um OUTLET da Neuhaus, onde você compra as mesmas
caixas por quase a metade do preço!
E
– preste atenção – se você comprar uma caixa simples de papelão, sem
identificação e parafernálias fofas, com 1 KG de chocolates (ganaches, trufas, pralinés,
etc) sai por 20 euros. Eu disse: 1 KG de Neuhaus!
Esse
post já está muito grande. Depois prometo fazer um novo post com os preços de
produtos menos alcoólicos ou menos açucarados! =)
A tristeza está no preço das carnes de vaca, frango e peixes... =( Nas caixas de suco e algumas frutas.
PS:
Sei que não devemos simplesmente converter o Euro para Real, para sabermos o
verdadeiro impacto do preço das coisas. Para um turista, até faz sentido, mas
para entender o impacto financeiro na vida das pessoas não. Afinal, como o
salário mínimo aqui na Bélgica é de 1.200 euros (o que daria +/- 3.600 reais),
contra os quase 800 reais que pagamos no Brasil, uma cerveja de 1 euro é sim, para
um belga, muito mais barata que uma cerveja de 3 reais para um brasileiro (em
relação a sua proporção no salário), embora a conversão seja essa. Ou seja: os
preços aqui são de fato mais baratos e têm um impacto menor no salário dos
belgas.